A ESTRADA DO OUTRO LADO DA FAZENDA


16º
E foi fazendo meu trabalho que vi ao lado da cerca de plantação de soja, uma estradinha de terra.
Aqui nesta fazenda, os empregados que não são temporários, não são aqueles que veem só em época de colheita, trabalham num produção deste o início até o fim dela. Eles preparam a terra, plantam as sementes, cuidam das plantaçãoes, fazem as colheitas e são também responsáveis pelo carregamento dos caminhões. Os que estão trabalhando com a safra de trigo, ficam no trigo, os da Soja, na soja e os do Girassois, ficam nos girassóis. Eh comum o nosso chefe trocar de local de trabalho, as vezes, alguns funcionários. Geralmente quando eles pedem. Mas só faz isso quando estão dando início da preaparação da terra para o plantío.


Meu chefe me mandou para a plantação se soja que já esta em fase de produção das sementes. E eu nem pedi a ele isso. Queria ficar nas plantações de trigo. Mas eh ele quem manda. Então fui trabalhar com a soja. O terreno onde estão plantados Soja eh tão grande quanto o que estão plantados Trigo. São pés de soja a perder de vista. O trabalho eh praticamente o mesmo. E foi fazendo meu trabalho que vi ao lado da cerca de plantação de soja, uma estradinha de terra. Não era como a outra estradinha que margea a plantação de trigo, mas fiquei pensando que podia ser a mesma estradinha, que apenas contornava a fazenda.


Mas depois descobri que não era a mesma estrada. Esta estradinha também levava a uma outra pequena cidade. Então, a Fazenda onde eu trabalho ficava entre duas pequenas cidades. Estava na caminhonete dirigida pelo companheiro de trabalho, na estrada da fazenda que acompanhava aquela estradinha de terra. Andamos bastante com a caminhonete, mas não vi nenhuma pessoa passando por aquela estrada. Claro que mesmo achando difícil, não deixei de imaginar ver a professora passando por aquela estrada. 
Eu não tinha ficado satisfeito em ser transferido para a plantação de soja, mas isso começou a mudar quando vi a estradinha que passava por ali também.

A MUDANÇA DO LOCAL DE TRABALHO

15º
No outro dia, foi designado para trabalhar do outro lado da Fazenda. O mais distante que encontraram de onde eu conversava com a professora.
Meu chefe acabou dizendo que não iria falar nada com meu pai. Mas disse que não queria me ver conversando com a professora novamente. Mesmo eu perguntando o porque não podia, ele nunca me dizia. Limitava dizer apenas "Faça o que estou te pedindo, por favor. Além do mais, esta mulher deve ter o triplo de sua idade, sua mãe não aprovaria. Você eh menor de idade e seus pais são os responsáveis por você." 
Eu podia não ter idade para ser idependente, mas tinha o bastante para saber que me escondiam alguma coisa. E não era sobre a Fazenda, como sempre me queriam fazer acreditar. Era sobre mim mesmo.


No outro dia, foi designado para trabalhar do outro lado da Fazenda, na plantação de soja. O mais distante que encontraram de onde eu conversava com a professora. Decidi, pensando em mim mesmo, que não iria reclamar e fazer como me mandaram, para parecer que estava tudo bem e que não tinha nada do que reclamar. Mas eu iria tentar descobrir o porque eu não podia sair da fazenda. Ia começar a falar deste assunto como todos os empregados que eu conversasse, uma hora ou outra, alguém falaria alguma coisa. 




A PROPOSTA

14º
Nossas conversas ficam sempre em torno da fazenda, do meu trabalho e do trabalho dela. Mas hoje ela disse que tinha uma proposta para me fazer.
A parte da fazenda onde estava plantado o trigo já está quase pronta para um novo plantio. Estamos esperando apenas, o que dizem por aqui, a terra descansar. Está toda nivelada, adubada e pronta para entramos com a semeadeira e fazer o plantio novamente. Ano após ano eh sempre a mesma coisa, não vejo nada mudar e nada diferente acontece. A não ser alguns empregados que saem da fazenda porque arrumam outro emprego na cidade ou vão embora para outra cidade para trabalhar ou estudar na faculdade.
Outros empregados chegam para trabalhar aqui depois de ficarem desempregados ou porque já queriam trabalhar aqui na fazenda e só não tinha vindo ainda porque não tinha vaga. Muitos empregados estão aqui a muito tempo, bem antes de eu estar vivo. Outros não ficam muito tempo. Parece que não gostam do serviço e vão embora pouco tempo depois para trabalhar em outro lugar na cidade ou outra fazenda.
Tenho me encontrado com a professora de ciências quase todos os dias, mas sem deixar que algum colega meu de serviço ou mesmo meu chefe me veja com ela. Sempre a encontro no mesmo lugar. Na árvore frondosa que tem junto a cerca de arame farpado. Hoje fui me encontrar com ela a tardinha novamente. Nossas conversas ficam sempre em torno da fazenda, do meu trabalho e do trabalho dela. Mas hoje ela disse que tinha uma proposta para me fazer. Fiquei meio sem jeito, mas perguntei qual era.
__A gente conversa aqui na cerca já um bom tempo. Você gosta de conversar comigo e eu gosto de conversar com você. Então queria te convidar para a gente tomar um sorvete hoje, depois que terminar seu serviço, lá na praça da cidade. Você disse que nunca foi na cidade. Eh uma oportunidade de você conhecer a cidade onde moro. O que acha?
__Você quer que eu saia da fazenda? Mas eu não posso sair daqui. Não posso atravessar a cerca. 
__Porque não? Eh só uma cerca. Faz assim, você não pula a cerca, você passa pela porteira. (e deu um sorriso)
__Você quer que eu saia escondido? 
__Não! Fala com eles que você quer ir à cidade tomar um sorvete. Só isso.
Dei um sorriso meio sem graça e disse:
__Não dá. Meu pai disse que eu não posso sair daqui de jeito nenhum. 
__Porque não? Você eh só um funcionário da fazenda.
Nisto meu chefe apareceu e foi dizendo:
__O que esta acontecendo aqui? O que você está fazendo menino?
__Nada. Só estou conversando com uma professora.
__Vamos embora agora. Seu pai não vai gostar disso. Desculpa moça, mas ele precisa ir.
A professora então respondeu:
__Porque isso, a gente só estava conversando e eu o convidei para ir tomar um sorvete na cidade.
__Moça, nem pense nisso. Acho melhor você ir embora. Você pode trazer problema sério aqui pra todo mundo.
__Mas o que está acontecendo? Não estou entendo.
__Desculpa moça, mas eh melhor você ir embora.
Meu chefe me pegou pelo braço e saiu me puxando como se eu tivesse feito algo que não devia. Tentei questionar, mas ele disse que quando meu pai soubesse disso as coisas não iam ficar bem feia para o meu lado. Indo com meu chefe, dei thyal para a professora que ficou na cerca olhando eu indo embora.

ENCONTROS AO ENTARDECER

13º
Em nossas conversas eu já fiquei sabendo o nome dela, a idade e sabendo que ela mora sozinha na cidade. 
Agora que estamos preparando o terreno para o plantio da próxima safra, quase todos os dias eu vou até a beira da estrada ver a professora e falar com ela. Ela não falou mais sobre o que conversamos da última vez, que não entedia o que eu falava. Não ficamos conversando muito tempo, para evitar que algum outro empregado da fazenda me veja ali falando com ela. Como tem algumas árvores grandes  margeando a cerca da fazenda em alguns pontos, sempre encontro com a professora de ciência ficando atrás do tronco de uma dessas árvores, porque sem a plantação de trigo e o terreno todo plano, seria fácil me ver ali.
Em nossas conversas eu já fiquei sabendo o nome dela, a idade e sabendo que ela mora sozinha na cidade. Já sei que ela veio de um estado bem longe dali, que gosta ver jogo de vôlei, assistir novelas, comer pipoca, sorvete e batata frita. Que sente saudades da família, que queria que eles fossem morar ali com ela, mas os pais dela não queriam deixar sua terra natal, nem seus amigos e parentes. Que ela gosta muito de ser professora e ainda quer casar um dia, mas só com alguém por quem ela se apaixonasse. Ela disse que já teve namorados, mas não deu certo e que está sozinha. 
Sempre enquanto ela fica falando eu só fico observando seu rosto, que eh muito bonito, sem dizer nada para não atrapalhar o que ela diz. Sempre depois que ela para de falar ela sempre pergunta: 
__E você? Fale um pouco de você.
__Eu? Eu trabalho aqui na fazenda.
__E mora onde?
__Aqui na fazenda. Não lá fazenda, mas na fazenda.
__Acho que você já tinha me dito isso. Você tem namorada?
__Eu? Tenho nada. Quando meus irmãos falam neste assunto lá em casa, eu também falo que vou arrumar namorada, mas minha mãe fala que eu não tenho idade pra isso. Mas também, nem tem ninguém para namorar aqui. Lá na fazenda até tem umas meninas, mas aqui na fazenda não tem não.
__E seus irmãos?
__O que têm eles?
__Você nunca fala deles. Nem de seus pais. Nem de amigos.
__Meus irmãos trabalham aqui na fazenda também. Meus pais também, menos minha mãe. Meus amigos não eh ninguém não, porque eu só conheço as pessoas que trabalham aqui, mas nem conheço todos que trabalha aqui, só alguns. Os caminhoneiros também eu conheço, só alguns.
__Entendi.
__Preciso ir embora porque senão eles vão sentir minha falta no trabalho. Eu volto amanha tá bom!
__Está bem. Até amanhã. Thyal
__Thyal
Saí dali rapidamente e pouco depois encontrei com o meu chefe do serviço que me perguntou o que eu fazia atrás daquela árvore. Eu disse a ele que não estava fazendo nada, mas ele ficou insistindo e então eu disse que estava descansando. Ele então me perguntou:
__O que você está me escondendo?
__Nada. Só estava ali parado. Porque, não pode?
__Ta bom. Vamos indo.
E fomos indo embora com eu na frente e ele atrás dizendo: __Te cuida moleque.