A PROPOSTA

14º
Nossas conversas ficam sempre em torno da fazenda, do meu trabalho e do trabalho dela. Mas hoje ela disse que tinha uma proposta para me fazer.
A parte da fazenda onde estava plantado o trigo já está quase pronta para um novo plantio. Estamos esperando apenas, o que dizem por aqui, a terra descansar. Está toda nivelada, adubada e pronta para entramos com a semeadeira e fazer o plantio novamente. Ano após ano eh sempre a mesma coisa, não vejo nada mudar e nada diferente acontece. A não ser alguns empregados que saem da fazenda porque arrumam outro emprego na cidade ou vão embora para outra cidade para trabalhar ou estudar na faculdade.
Outros empregados chegam para trabalhar aqui depois de ficarem desempregados ou porque já queriam trabalhar aqui na fazenda e só não tinha vindo ainda porque não tinha vaga. Muitos empregados estão aqui a muito tempo, bem antes de eu estar vivo. Outros não ficam muito tempo. Parece que não gostam do serviço e vão embora pouco tempo depois para trabalhar em outro lugar na cidade ou outra fazenda.
Tenho me encontrado com a professora de ciências quase todos os dias, mas sem deixar que algum colega meu de serviço ou mesmo meu chefe me veja com ela. Sempre a encontro no mesmo lugar. Na árvore frondosa que tem junto a cerca de arame farpado. Hoje fui me encontrar com ela a tardinha novamente. Nossas conversas ficam sempre em torno da fazenda, do meu trabalho e do trabalho dela. Mas hoje ela disse que tinha uma proposta para me fazer. Fiquei meio sem jeito, mas perguntei qual era.
__A gente conversa aqui na cerca já um bom tempo. Você gosta de conversar comigo e eu gosto de conversar com você. Então queria te convidar para a gente tomar um sorvete hoje, depois que terminar seu serviço, lá na praça da cidade. Você disse que nunca foi na cidade. Eh uma oportunidade de você conhecer a cidade onde moro. O que acha?
__Você quer que eu saia da fazenda? Mas eu não posso sair daqui. Não posso atravessar a cerca. 
__Porque não? Eh só uma cerca. Faz assim, você não pula a cerca, você passa pela porteira. (e deu um sorriso)
__Você quer que eu saia escondido? 
__Não! Fala com eles que você quer ir à cidade tomar um sorvete. Só isso.
Dei um sorriso meio sem graça e disse:
__Não dá. Meu pai disse que eu não posso sair daqui de jeito nenhum. 
__Porque não? Você eh só um funcionário da fazenda.
Nisto meu chefe apareceu e foi dizendo:
__O que esta acontecendo aqui? O que você está fazendo menino?
__Nada. Só estou conversando com uma professora.
__Vamos embora agora. Seu pai não vai gostar disso. Desculpa moça, mas ele precisa ir.
A professora então respondeu:
__Porque isso, a gente só estava conversando e eu o convidei para ir tomar um sorvete na cidade.
__Moça, nem pense nisso. Acho melhor você ir embora. Você pode trazer problema sério aqui pra todo mundo.
__Mas o que está acontecendo? Não estou entendo.
__Desculpa moça, mas eh melhor você ir embora.
Meu chefe me pegou pelo braço e saiu me puxando como se eu tivesse feito algo que não devia. Tentei questionar, mas ele disse que quando meu pai soubesse disso as coisas não iam ficar bem feia para o meu lado. Indo com meu chefe, dei thyal para a professora que ficou na cerca olhando eu indo embora.

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