DE VOLTA AO PASSADO

10º
Sempre que termina a colheita aqui na fazenda eu fico com a sensação de ter ficado para trás. E essa sensação demora em passar.
A colheita do trigo aqui na fazenda terminou. O movimento de pessoas e caminhões acabou. As conversas depois do serviço já não acontecem, a comida diferente que era servida aos caminhoneiros já não eh mais feita, o café da manhã em meio a tantas pessoas deixou de ser servido e um pouco do mundo que eu fico sabendo através dos caminhoneiros terá que esperar a próxima colheita. Os caminhoneiros foram embora deixando para trás a poeira dos campos de trigo e uma terra esperando para ser preparada para um novo plantio, os amigos que fizeram e eu. Eh que sempre que eles partem, tenho a sensação que foi deixado para trás.
A volta da rotina para mim eh como me desligar do mundo para voltar a viver este mundo limitado por uma cerca de arame farpado. Esta fazenda onde trabalho, para muitos pode parecer imensa onde de um lado eh impossível ver o outro, para mim eh só um cercado. Mesmo que eu possa andar por muitos quilômetros dentro desta fazenda e isso possa ser considerado muito se comparado a pessoas que moram em cidades e nunca saem de lá ainda que não tenha cercas, eu estou cercado por arames farpado que determinam meu limite de ir e vir.
Sempre que termina a colheita aqui na fazenda eu fico com a sensação de ter ficado para trás. E essa sensação demora em passar. Trabalhador de fazenda não tem tempo de lamentar, esperar e talvez nem sonhar.
Mas tem seu lado bom. Quando a plantação começa a surgir na terra, você sente orgulho de ter participado daquela pequena vida que se inicia e fica mesmo orgulhoso de saber que aquela vida está ali graças a você. E que muitas pessoas dependem de que o trabalhador de fazenda faça o trabalho direito para que tenham o resultado de seu trabalho em sua mesa, ainda que nunca lembrem que um trabalhador de fazenda foi quem permitiu isso.



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